PRIMEIRO DRIBLE

Houve um encanto no primeiro instante. Eu não escolhi torcer para o Bahia, meu irmão me impôs, porque queria que eu fosse seu adversário. Sorte a minha. Ver, na Fonte Nova, a chuva de papéis picados em meio às serpentinas, o foguetório, os gritos ensurdecedores e as escadarias balançando, foi a constatação de que estava do lado correto. Foi assim que desgarrei-me do rubronegrismo familiar, para assumir meu único amor futebolístico.

Da torcida mista, eu via a torcida tricolor do lado esquerdo e a torcida adversária do lado direito. O chão pós-jogo era coberto de cartelas de loteria, papel higiênico e os restos dos diversos lanches e bebidas consumidos durante o jogo. Proteção do sol feita com boné, camisa ou mão; o sorvete era da caixa cilíndrica térmica para a casquinha de espuma; a limonada saía do barril niquelado debaixo do suvaco do vendedor, para o copinho descartável; tinha chopinho no bar e cerveja em lata no ambulante; refrigerantes, baianinhas (eu conhecia como garrafinha), água em saco, rolete de cana, pipoca.

O futebol era mais apaixonado, com doses maiores de esperança. O tempo em que a trapaça era velada dentro e fora do campo. A plateia não escondia o jogo sujo e atirava urina de um anel para outro. O assento era duro, concreto, bem como o retrato social vivido ali. O grito era um afugentador de agonias.

Sou esse torcedor de arquibancada que estranha os encostos das arenas, que sai rouco de qualquer jogo, mas que espera os replays dos lances quando está no estádio. O torcedor do xaréu que se acomodou diante da tv. O cara que transforma dia de jogo do tricolor em feriado pessoal e grita seu amor sem perceber os arredores.

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